sábado, 12 de julho de 2008

O dia em que a Dn. Esperança morreu...

O fax está sem tinta, era isso que oiço o guarda a dizer..
Estava eu com fome e a espera que relatasse o roubo de meu telemóvel e cartão.
Os dias não se parecem muito amáveis comigo.
Mas, sem dúvida me sinto ainda blindada por não ter sido atingida em cheio.
Era a segunda vez em um mês que ia aquele distrito, e a folha de ocorrências parecia muito mais numerosa desde eu está lá.
Agora dessa vez já estava com residência e não corria o risco de ficar lá depois de ter sido furtada.
O meu passe foi perdido, e isso já foi, agora tinha que lidar com a raiva de ter sido roubada por ciganos.
No mesmo momento que estudo palavras de um amável Sargento a dizer que era uma Brasileira diferente, pensava eu que o preconceito que havia de toda uma conjuntura estava também a me pegar por conta de ter sido roubada por ciganos.
E o fax já estava a ser colocado em uso...
Era uma confirmação, um corpo estendido no chão, como disse oChico.
Eu estava a pensar mesmo que para aqueles homens somente era um corpo no chão.
E o fax comera a ser impresso...
O guarda disse-me que não era para eu perder a esperança que as coisas melhorariam.
Nunca pensei encontrar lá alguém que me diria palavras tão doces.
Completou o homem dizendo: vi uma vez o Tonny Ramos em uma novela vossa a dizer que devemos colocar amor em tudo que fazemos...
E o fax começa a ser lido..
- O corpo não necessita de autópsia. E, o guarda completou: O cadáver era de uma senhora já bem velha, 71 anos. O nome dela era Esperança Silva Lindoso.
Peguei minha folha e saí a pensar:

Será que a esperança morre as 71 anos? ou para alguns chega a se desfalecer com menos anos?
Estou a ser preconceituosa para com a etnia?

Preciso dormir, realmente o dia não foi bom... Sem telemóvel, minha amiga mentiu-me, meu namorado em França acha que não quero atender o telemóvel, sem grana nem para ligar e gritar ao mundo.

Fica em paz onde estiver Esperança!!!